O câncer de mama é uma doença extremamente temida por nos mulheres, afeta diretamente a condição física, social, e emocional das mesmas como também seus familiares. A partir do momento do diagnostico todos vivem momentos de intensa angustia e muitas dúvidas, onde a cogitação de morte ou mutilação passa estarem presentes constantemente no pensamento de todos.
O câncer de mama desestrutura a mulher no sentido de trazer para a sua convivência a incerteza da vida, a possibilidade de recorrência da doença e a incerteza do sucesso do tratamento (Vieira, 2007 apud PIETRUK, CASTELLANO e OLIVEIRA, 2009).
Os avanços tecnológicos na área oncológica apresentam resultados no aumento da sobrevida, porém o foco sempre é a cura do câncer, ao invés de visar também os cuidados e o bem estar geral dos pacientes.
O diagnóstico positivo desta neoplasia abala fortemente a identidade de uma mulher, sendo a mama um órgão relacionado com a vaidade e feminilidade, assim como o cabelo também. A mulher diagnosticada com câncer de mama passa por várias etapas, incluindo a aceitação e convivência com um novo corpo, com o fato de se olhar no espelho e enxergar outra imagem, como se fosse realmente outra pessoa.
O profissional de estética pode por sua vez, auxiliar no resgate da autoestima, confiança e autovalorização. Orientando a mulher que se empenhe na recuperação, evolução ou estabilidade da sua saúde através de cuidados estéticos, como: cuidar da pele, que sofre alterações como queimaduras e ressecamento; cuidar das unhas que ficam enfraquecidas durante a quimioterapia; maquilar-se, utilização de acessórios como (sutiã apropriados, lenços de cabeça, ou na escolha de perucas), micropigmentação em caso da recuperação da mama mastectomizada(AB Câncer, 2009 apudPIETRUK, CASTELLANO e OLIVEIRA, 2009).
CÂNCER DE MAMA E O PAPEL DO TECNÓLOGO DE ESTÉTICA
1.1 O câncer de mama
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente na população e o mais comum entre as mulheres, sendo um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, sendo que as maiores taxas de incidência e mortalidade ocorrem nas Regiões Sul e Sudeste, e as menores taxas nas Regiões Norte e Nordeste INCA (2016).
É uma doença resultante do crescimento rápido e desordenado das células que adquirem a capacidade de si multiplicar, essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis que formam um tumor maligno (câncer) com potencial de invadir outros órgãos. O câncer de mama como o nome mesmo diz atingem as glândulas formadas por lobos, que si dividem em estruturas chamadas lóbulos e ductos mamários.
A maioria dos casos tem boa resposta ao tratamento, principalmente quando diagnosticados e tratados no início (MULHER CONSCIENTE, 2014).
1.2 Fatores de risco em que o câncer de mama está associado
Um importante fator de risco não modificável para o câncer de mama é o histórico familiar. O fator genético resulta de 5 a 10% dos casos de câncer de mama, o que significa que resultam diretamente de defeitos genéticos herdados de um dos pais. Mulheres com parentes de primeiro grau (mãe ou irmã) que tiveram a doença antes dos 50 anos podem ser mais vulneráveis (MULHER CONSCIENTE, 2014).
1.3 O paciente com câncer: cognições e emoções a partir do diagnóstico
Percebe-se que a primeira preocupação da mulher e seus familiares após receberem o diagnóstico do câncer de mama é o risco de morte. Seguindo a preocupação com o tratamento e consequentemente condições econômicas para realização do mesmo. Quando o tratamento está em andamento, o desespero e angustia se voltam para a mutilação, a mudança radical que o corpo sofre devido o tratamento como todo e todas as suas consequências para a vida sexual da mulher (SILVA, 2008).
Ainda quando o tratamento resulte na preservação da mama e ocorra apenas a retirada do tumor, observa-se que a indicação causa repulsa e crises nas doentes (SILVA, 2008).
Na visão representativa, a mama sempre foi associada a prazerosos atos como seduzir, acariciar, amamentar, o que passa bem longe da hipótese de ser objeto de uma intervenção dolorosa, ainda que necessária (GOMES, SKABA & VIEIRA, 2002, p. 200-201).
Ele é bastante explorado como símbolo sexual, de acordo com padrão de beleza imposto pela sociedade e reforçado pela mídia de forma completamente apelativa. O câncer de mama e seu forte tratamento interferem muito negativamente na identidade feminina, resultando em fortes sentimentos como a rejeição do parceiro; baixa autoestima; e inferioridade.
Ao perceberem-se longe do ideal de mulher, as pacientes de câncer de mama sentem-se incapazes de proporcionar momentos gratificantes e prazerosos, tanto a seus parceiros e respectivos maridos quanto para seus filhos (QUINTANA et al., 1999).
Os abalos na vida emocional, sexual e social não perduram apenas no período de um a dois anos após o início do tratamento, mas sim após cinco anos. Por tanto ressaltam, que o cuidado psicooncológico com as pacientes deve continuar após o término do tratamento (HOLZNER et al., 2001 apud SILVA, 2008).
1.4 Intervenções estéticas voltadas às pacientes em tratamento de câncer de mama
Os efeitos colaterais do tratamento de quimioterapia, a queda dos cabelos, o ressecamento da pele, a queda dos cílios e das sobrancelhas aparecem entre os problemas estéticos durante o tratamento do câncer de mama. Há ainda os prejuízos causados pelas cirurgias, como os relativos à reconstituição da mama (INSTITUTO ONCOGUIA, 2016).
A micropigmentação é uma técnica do ramo estético sendo necessária a especialização da esteticista. Este procedimento visa criar um novo desenho do mamilo e da aréola, usando um demógrafo e para a pigmentação são utilizados pigmentos inorgânicos (BRANDÃO, 2014).
Figura 4: Micropigmentação na mama
A intervenção estética, realizada pelo profissional habilitado gera melhorias na imagem corporal e na identidade feminina, melhorando assim o psicológico e o emocional da paciente.
A realização de drenagem linfática manual age drenando o acúmulo de liquido no interstício. Este procedimento atua auxiliando o sistema linfático, com pausadas e repetidas manobras, auxiliando na retirada de proteínas e resíduos, resultando na demanda de nutrientes e oxigênio aos tecidos (BARROS et. al, 2014)
A realização da termoterapia, calor superficial através de compressas de bolsa térmica e parafina, é uma maneira de estimular o tecido cutâneo ou transcutâneo, e pode ser feita com o intuito de alivio em dores oncológicas e em pacientes sob cuidados paliativos (FONSECA e BRITTO, 2009).
É contraindicada aplicar a termoterapia superficial diretamente sobre o tumor maligno, devido ao aumento da irrigação sanguínea local, pois pode apresentar riscos na disseminação de células tumorais por via linfática e/ou sanguínea. Por estes mesmos motivos também são contraindicadas todas as formas de termoterapia que usam de calor profundo (laser, ultrassom, e ondas curtas). O calor ocasiona aumento da atividade metabólica local, podendo disseminar células neoplásicas. Este calor superficial deve ser manejado em regiões ricas de sensação térmica, deve ser evitado regiões com carência vascular, dos tecidos infectados ou lesados e de radioterapia localizada (FONSECA e BRITTO, 2009).
A massoterapia trata-se de uma técnica muito antiga, mais conhecida e usada em terapias complementares, em conjunto com o tratamento convencional, para pacientes com câncer, visando o alívio da dor. Ha inúmeras técnicas de massagem, que envolve todas as partes do corpo ou partes específicas, como a reflexologia, que é realizada através das mãos, principalmente nos pés. São movimentos de percussão, compressão, vibração, fricção, amassamento e deslizamento. O resultado analgésico deste procedimento terapêutico tem como base a teoria do controle do portão da dor e na ativação do sistema supressor da dor (FERREIRA; LAURETTI, 2007; PIMENTA; FERREIRA, 2006 apud FONSECA e BRITTO, 2009). É contraindicada quando ocorre o aumento da dor, lesão da pele ou óssea (PIMENTA, 2000 apud FONSECA e BRITTO, 2009).
Aromaterapia pode ser um recurso utilizado resultando no alivio de sintomas e relaxamento. Utilizam-se óleos essenciais, extraídos de plantas aromáticas, podendo alterar a percepção da dor crônica, age no controle do estresse, e auxilia na manutenção da integridade da pele (KAZANOWSKI E LACCETTI, 2005 apud FONSECA e BRITTO, 2009).
De acordo com terapeutas, cada essência tem uma função benéfica e especifica, podendo ser utilizada como complemento no tratamento da analgesia oncológica. Um estudo feito, utilizando à massagem em conjunto com a camomila (C. nobile), no período de três semanas, em pacientes com câncer, resultou na redução significativa dos escores de tensão, ansiedade e dor.
A musicoterapia é um procedimento realizado através do som auxiliando no foco de atenção em outro estímulo que não seja a dor, sendo assim aumenta a estimulação de outro canal sensorial (audição), então a percepção à dor fica prejudicada pela atenção a outro estímulo (FONSECA e BRITTO, 2009).
1.6 A autoestima durante o tratamento de câncer de mama
Estudos mostraram que pacientes com autoestima elevada, conseguem seguir o tratamento com mais segurança e tranquilidade, obtendo assim evolução, sucesso e resposta positiva no mesmo (PIETRUK, CASTELLANO e OLIVEIRA, 2009).
1.7 Cuidados paliativos estéticos para o bem estar da paciente com câncer de mama
Os cuidados paliativos e estéticos oferecidos por uma equipe multidisciplinar voltados para pacientes oncológicos em fases avançadas, ativa em progressão, cujo prognóstico é reservado e o foco da atenção é a qualidade de vida e aumento da autoestima. Esses cuidados podem e devem ser oferecidos e mais cedo possível permitindo uma redução dos impactos do câncer e individual e coletivo. Além da dor e outros desconfortos físicos para o indivíduo, o câncer traz impactos de ordem psíquica, social e econômica, tanto para o paciente como para seus familiares (SILVA, 2004).
Além da dor, outros sintomas acometem o paciente com câncer, como: anorexia, depressão, ansiedade, fraqueza e outros. A profissional da área da estética pode fazer parte da equipe multidisciplinar de cuidados paliativos e ser grandes facilitadores do trabalho da equipe médica, em benefício do paciente oncológico (SILVA, 2004).
– Pele Seca com descamação: aplicação de produtos ricos em hidratação inodoros (sem cheiro);
– Descamação úmida: compressas de agua em temperatura ambiente, e ou irrigação com soro fisiológico.
– Importância do uso do protetor solar, que deve ser a base de oxido de zinco, ou de dióxido de titânio, devido a sensibilidade da pele.
– Unhas enfraquecidas e ressecadas: podem ser tratadas com ativos entre eles a ureia. As cutículas não devem ser retiradas e sim hidratadas.
– Quedas dos cabelos podem ser reparadas através do visagismo na indicação de acessórios como chapéus, bonés, lenços e claro na escolha correta de perucas.
O visagista pode auxiliar na escolha de roupas, uso de cores, sutiã adequado com enchimento especial (caso a não colocação da prótese).
– Pode-se sugerir o uso de maquiagens com produtos de origem mineral evitando riscos de alergia devido a alta sensibilidade da pele (PIETRUK, CASTELLANO e OLIVEIRA, 2009).
1.8 A prevenção do câncer de mama e o autoexame
O autoexame das mamas deve ser feito mensalmente, no caso de mulheres que tem ciclo menstrual o mesmo deve ser realizado 7 dias após o início da menstruação, quando a mama já não estiver mais inchada e nem dolorida. No caso de mulheres na menopausa ou que realizaram a retirada do útero, o autoexame pode ser feito qualquer dia do mês (ICC, 2018).
Figura 5: Autoexame das mamas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mulher, ao se descobrir com câncer, passa por um processo doloroso e vulnerável. Sendo assim, o câncer tem sido visto como uma doença cruel e incontrolável, e as pacientes, apresentam sintomas de baixa autoestima devido aos efeitos colaterais do tratamento. A retirada da mama, a queda dos cabelos, cílios e sobrancelhas podem ser uma das etapas mais difíceis e receosas da doença ocasionando assim, baixa autoestima. O papel do profissional em Estética pode apontar alternativas satisfatórias e eficazes, para a melhoria das mulheres em tratamento usando seus conhecimentos e habilidades realizando o atendimento necessário para cada paciente.
O esteticista pode atuar com terapias para alivio da dor, relaxamento acúmulos de líquidos e melhora na qualidade de vida das pacientes durante o tratamento indicando também cuidados básicos com a pele, visagismo, auto maquiagem, acupuntura, fitoterapia entre outros recursos já citados, como usar perucas, lenços e maquiagem contribuindo assim com a recuperação dessas pacientes. Cuidados com a estética são necessários e importantes para qualquer pessoa para olhar-se no espelho e gostar do que si vê, ter uma aparência agradável eleva a autoestima e ajuda na melhoria de qualquer tratamento de saúde.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Verbena; et al. Conhecimento das Mulheres Sobre o Autoexame de Mamas na Atenção Básica. 2010. Revista de enfermagem referência. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIIIn2/serIIIn2a03.pdf. Acesso em 03 de março de 2018.
BARROS, D.S; SILVA, C,S,C; BATALAU, T.B; SOUZA, A.P.A; NASCIMENTO, A.F. Revista de Produção Acadêmico-Científica, Manaus, v.1, n.º 1, 2014. Disponível em: http://docplayer.com.br/9062252-Estetica-e-cosmetica.html Acesso em: 26 de setembro de 2017.
BRANDÃO, Fernanda Machado. Dermopigmentação cutânea em pacientes mastectomizadas. Revista Eletrônica de Saúde e Ciência. Volume IV, número 02. Goiânia – GO. 2014. Disponível em: http://www.rescceafi.com.br/vol4/n2/dermopigmentacao%20pags%2055%20a%2068.pdf. Acesso em: 20 de nov. 2017.
FONSECA, Joyce Fernanda Duque; BRITTO, Márcia do Nascimento. Terapias complementares como técnicas adjuvantes no controle da dor oncológica. Revista Saúde e Pesquisa, v. 2, n. 3, p. 387-395, set./dez. 2009. Disponível em: http://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/saudpesq/article/view/1151/903. Acesso em: 26 de setembro de 2017.
GIARETTA, Eliana. Câncer de mama X Recuperação e autoestima. 2017. Revista Profissão Beleza. 2017
GOMES, R.; SKABA, M. M. V. F.; VIEIRA, R. J. S. Reinventando a vida: proposta para uma abordagem sócio antropológica do câncer de mama feminina. Caderno de Saúde Pública, 19(1), 197-204. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000105&pid=S1413-7372200800020000500015&lng=pt. Acesso em: 26 de setembro de 2017.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA – INCA. Estimativa 2015: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2015.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA – INCA. Estimativa 2016: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2016.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA – INCA. Estimativa 2016: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/mama/sintomas Acesso em: 05 de outubro de 2017.
INSTITUTO ONCOGUIA. Estética. 2016. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estetica/35/5/ Acesso em: 27 de Setembro 2017.
INSTITUTO ONCOGUIA, 2016. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/sinais-e-sintomas-do-cancer-de-mama/1383/34/ Acesso em: 05 de outubro de 2017.
INSTITUTO DO CANCER DO CEARÁ. Câncer de mama. Disponível em: https://www.icc.org.br/outubro-rosa/cancerdemama/ Acesso em: 05 de outubro de 2017.
MULHER CONSCIENTE. Câncer de Mama – Sobre o Câncer. 2014. Disponível em: http://www.mulherconsciente.com.br/cancer-de-mama/sobre-o-cancer/. Acesso em: 26 de setembro de 2017.
MORAIS, C.F.L; RIBEIRO, P.K; MOREIRA, R.A.J. Os benefícios da micropgmentacao areolar em pacientes com câncer de mama pós mastectomizadas e com reconstrução mamaria. Revista ética com ciência ed. 12, ano II, 2017.
PIETRUK, C.M.K; CASTELLANO, M.F.; OLIVEIRA, S.P. O papel do tecnólogo e imagem pessoal na melhoria da autoestima de mulheres em tratamento contra o câncer de mama. Universidade Tuiuti. Curitiba, Paraná. 2009.
SILVA, Lucia Cecilia da. Câncer de mama e sofrimento psicológico: aspectos relacionados ao feminino. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, abr./jun. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722008000200005&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 27 de Setembro 2017.
SILVA, R.C.F. Cuidados paliativos oncológicos: reflexões sobre uma proposta inovadora na atenção à saúde. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 2004.
QUINTANA, A. M., SANTOS, L. H. R., RUSSOWSKY, I. L. T., WOLFF, L. R.. Negação e estigma em pacientes com câncer de mama. 1999. Revista Brasileira de Cancerologia. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000106&pid=S0103-863X200500030001200015&lng=pt. Acesso em: 27 de setembro 2017.
Autoria: Alunas: Ana Claudia Alves Santana e Fernanda Ferreira Orientadora: Carla Simone Binz.